domingo, 29 de abril de 2007

Tarantinices

Não me recordo qual foi o primeiro filme que assisti na vida mas sei com certeza qual foi o primeiro que mudou a minha concepção de cinema. “Pulp Fiction” foi para mim o mais importante filme dos anos 90. E não sem razão.

Voltemos um pouco no tempo. Era uma noite de Segunda-feira. Estava deitado na cama de um hotel barato da cidade de São Carlos, ao lado dos trilhos do trem, assistindo maravilhado mais uma cerimônia do Oscar (ainda não tinha caido a ficha da palhaçada que esta festa é). Corria o ano de 1995. Era meu primeiro ano de faculdade e aí estava eu sozinho em uma cidade estranha, sem conhecer ninguém.

Na transmissão alguns flash de uma festa em São Paulo com convidados famosos ou nem tantos que juntos assistiam à premiação. Cortesia do SBT que transmitia o prêmio naquele ano e tentava transforma-lo em algo popular. Uma bolsa de apostas entre os “famosos” (ei, estavam na TV não é ?) se dividia entre o filme em questão e o meu favorito “Forrest Gump” de Robert Zemicks. E eu me indignava com as pessoas que davam como certas a vitória desse tal de “Pulp Fiction”. Terminada a cerimônia, Tom Hanks e Zemicks vitoriosos, eu lá com um sorriso de satisfação nos lábios (santa ingênuidade).

Alguns dias depois, em uma Sexta-feira ao sair da faculdade passei no cinema no Centro da Cidade (que deve ter tido dias mais gloriosos) e lá estava ele em cartaz: o tão comentado “Pulp Fiction”. Entrei no cinema com um misto de desconfiança e receio (diziam que era extremamente violento). Ao termino de suas mais de 2 horas de projeção sai anestesiado pelas ruas da cidade em direção ao mesmo Hotel de sempre. Minha mente estava confusa, cheia de pensamentos, uma estranha euforia que não sabia muito bem como classificar. Eu tinha acabado de ver o filme de minha vida, pensava.

Tarantino com seus diálogos deliciosamente pop, com sua câmera inquieta e uma edição memorável fazia escola. Na época eu não me interessava muito por essas coisas mas a essência toda estava lá, entrando em meu corpo como um vírus destruindo tudo o que havia enraizado no âmago de meu ser.

E não só comigo. Esse efeito era notado em todo o cinema, desde o independente até o mais comercial. Todo o cinema do mundo, desde o americano, passando pelo europeu e até o brasileiro se rendia às Tarantinices do cinema no final do século.

A primeira coisa que fiz quando acordei naquele Sábado para ir à mais uma torturante aula de manhã na Faculdade, foi passar em uma loja no centro da cidade e procurar a trilha sonora do filme. Aquela cena da Uma Thurman (não sabia o nome dela a época, apesar de já a ter visto em algum lugar) dançando e cantando em seu apartamento não saia de minha cabeça. E o fato de morar em uma cidade pequena do interior fazia com que eu não ficasse exposto à intermináveis execuções dela em tudo o quanto era lugar.

Voltei algumas vezes no cinema para rever o filme , desta vez com mais calma. E foram intermináveis 6 meses até que a fita chegasse enfim às locadoras. Era até uma época que eu não tinha medo do fato que ela pudesse não chegar à minha cidade. Chegou, enfim.

O tempo passou, o filme está aí para todos verem. O Cinema do Centro da cidade deu lugar para mais uma Igreja (e não adianta ir lá porque eles não vendem pipoca).

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