domingo, 29 de abril de 2007

Divagações devagares

Às vezes a mente trai. Tipo quando dois amigos discutem acerca do aconteceu em determinado momento e ambos acreditam ter certeza de que tudo aconteceu da maneira que cada um está contando. E a vida é feita de momentos, estes diferentes e com detalhes que para um insignificantes , para outros nem tanto. A cor, o perfume, a música. Cada peça que compõe diferente a pessoa.. Se temos um código que carregamos conosco, uma herança genética que pode nos identificar , existe , ali em um canto da mente um outro código, este por sua vez só nosso, não-identificável e que nos completa. Um Homem sem passado é um Homem sem futuro.

Para muitos é na infância que passaram os melhores momentos da sua vida, para outros é na adolescência. Uma saudade que o irá acompanhar por cada momento de sua vida. É só escutar uma música , ver um filme e imediatamente a mente nos leva à esse tempo. Por um segundo podemos sentir o gosto de algo, um cheiro característico e pronto. Um turbilhão de emoções que às vezes nem entendemos direito.

O que aconteceria se você pudesse, hoje, voltar ao passado com todas as experiências que carregou na vida até agora ? Na adolescência, por exemplo, parte da vida repleta de acontecimentos na vida de uma pessoa, onde cada dia parece uma vida, cheia de desejos, anseios e insegurança. As mesmas músicas, os mesmos livros e os mesmos filmes.

Seria chato.

Digo isso por que acredito que o grande fascínio que esta época trás , diz-nos respeito a ingenuidade, até mesmo à boçalidade. Qual a graça de se ter novamente 15 anos sem todo aquele prazer da descoberta, sem aquela ânsia de viver e a incrível mentalidade de que podemos mudar o mundo e que com o passar do tempo vai se esfarelando.

Uns podem até contra-argumentar dizendo que naquela época era só curtir a vida, não ter preocupações nenhumas a não ser passar de ano, liberdade para acordar na hora que quiser e sem ninguém encher o saco. Ter isso de novo já valeria a pena.

Até valeria, mas se perderia a essência que faz com que a adolescência nos marcar a alma. O prazer da descoberta (sim eu sei que para alguns é um tormento).

A vida adulta nos trás somente a maturidade, força para podermos lutar com algumas coisas mas poucos prazeres (daqui à alguns anos quem sabe eu mudo de idéia). A maioria das descobertas dessa fase são preferíveis se continuassem escondidas. A constatação que agora você tem poucos amigos e desses poucos, mais poucos ainda não te decepcionarão; que o mundo se move tão somente com dinheiro, que prá tudo existe o jeitinho brasileiro e que a Justiça tem esse nome por mero capricho de alguma mente criativa.
Ei isso está se tornando sério demais !

Filmes também são assim. Recentemente tive o (des)prazer de rever um filme que fora importante para mim na infância. Bem, não tão importante assim, mas eu me lembro de ter gostado dele. Chamava-se “Explorers – Viagem ao mundo dos sonhos” do Joe Dante. Resultado: Decepção. Não que o filme seja totalmente ruim, mas a magia que estava lá simplesmente sumiu e os efeitos, na época sensacionais, ficaram datados. É exatamente o que acontece hoje quando alguns adultos criticam o infantil “Harry Potter”. Realmente, é um filme mediano, quase ruim, mas para a cabeça das crianças trás um fascínio incrível. Há magia aí (sem trocadilhos).

É claro que um adulto que já leu coisas melhores , assistiu à filmes de Felline, Truffaut entre tantos outros não se empolgará mais com esse tipo de filme (não o tipo necessariamente mas a maneira como este em particular foi escrito).

Voltando ao assunto, esta criança de hoje quando tiver mais idade não vai se empolgar novamente da mesma maneira quando rever o filme. Um conselho de amigo é não rever, conselho esse que nem mesmo eu me lembro de escutar às vezes.

Por outro lado (sempre existe outro) alguns filmes ainda mantém um certo fascínio. Não total, mas ainda um certo fascínio. No momento estou me decidindo se vejo ou não “Os Goonies” novamente. E estou procurando um filme , que deve ser um lixo, “Teen Wolf”, mas que me recordo com carinho. Lembro-me até de onde estava momentos antes de passar na Tv ainda nos anos 80.

No começo da minha adolescência comprei um guia de video , o meu primeiro , e ficava indignado com as notas que eram dadas para muitos filmes que eu gostava. Era ridículo o fato de darem somente 3 estrelas para um clássico como “Evil Dead”. Bem, recentemente assisti novamente o filme e tive que constatar que realmente é verdade. Poderia ser apenas mais um filminho qualquer se não fossem os talentos envolvidos na produção, os ângulos de câmeras incríveis e o humor ácido. Não é um filme para todos os gostos. O expectador comum que não se interessa pela parte tecnica irá achar ridículo (a não ser claro que seja um amante do trash).

É muito difícil conversar com alguém que não seja de sua faixa etária sobre filmes. Como dizer para um cara no auge de seus 20 anos que "Motoqueiro Fantasma" é uma droga (quem sabe não seja, adolescentes que o digam) e aquele antiquado James Bond é o máximo . Na verdade eu detestava James Bond quando tinha essa idade e preferia coisas como “Rambo” , mas isso é outra história. E tomara que nunca lancem “Spectromen” em DVD, para o bem de uma geração.

O fato é que os gostos mudam. Certamente quando tiver uns 50 anos, muito do que eu tolero hoje não sobreviverá e muitas coisas que hoje ignoro serão vistas com outros olhos. Poucas obras sobrevivem a uma revolução. A estas chamamos de “clássicos”.

2 comentários:

marcel disse...

Antoine, demais, "Divagações...", direto no foco, "apunhalada" no coração... mta inspiração... demais, sensacional... Marcel.

marcel disse...

Já parou pra pensar como gdes atores, atrizes, produtores e, principalmente, diretores, quarentões, cinqüentões etc e tal, conseguem tocar adolescentes e/ou jovens, como em filmes "A hora de voltar", "Antes do pôr-do-sol" (não são os melhores exemplos, mas, os q assisti recentemente), td bem, poderia citar, ainda "O Homem-aranha" feito para adolescentes, talvez, mas, que mtos cinqüentões ou sessentões acabam gostando dos filmes tb... coisa da magia do cinema e das pessoas que têm inteligência para fzer isso, impossível sem sensibilidade apurada de, n sei como dizer, talvez de "enxergar a vida" ou "viver mto bem vivida a vida" (pleonasmo ridículo até, mas, é isso aí, talvez)... ab Marcel.