domingo, 29 de abril de 2007

Hitch ! Nada Amoroso

JÁ tinha visto algum pedaço de “Psicose” por aí. Ou até mesmo aquele velhor seriado em algumas reprises.Na casa de um amigo viciado em Suspense e Terror assistí à “Janela Indiscreta” e “Os Pássaros”. Mas a primeira vez que fui fisgado por Hitchcock foi alguns anos depois com o magnífico “North by Northwest” (até o final eu devo me lembrar do título em português) com James Stewart e Eva Marie Saint. Para mim esse foi o verdadeiro primeiro Hitchcock. Ou Sir Alfred Hitchcock. Ou Hitch para os íntimos.

Para a minha sorte o meu amigo de Faculdade (o mesmo que tinha Amarcord) possuia várias fitas que seu pai lhe deixara e consegui acesso à algumas raridades como “A dama oculta” (The Lady Vanishes) ainda da fase inglesa e “Interlúdio” (Notórius) com a inesquecível Ingrid Bergman e o saudoso Gregory Peck. Este ainda com o atrativo de um falso Rio de Janeiro.

Foi a partir desse momento que em pouco tempo consegui assistir com uma boa ajuda do destino à vários filmes deste que foi sabidamente o Mestre do Suspense, desde os mais manjados até outras raridades (na época DVD ainda era uma promessa) como o primeiro “O Homem que sabia demais” , “Os 39 Degraus” , “Agente Secreto”, “O marido era o culpado” (“Sabotage”, e sim, esse título nacional não é brincadeira), “Jovem e Inocente”, “O Sabotador” , “Rebecca”, “Correspondente Estrangeiro” , “Suspeita”, “Quando fala o Coração” , “Agonias de Amor”... Para os mais velhos isso pode não parecer grande coisa mas hoje em dia é um dádiva. Outro dia mesmo passou em um canal fechado “A tortura do Silêncio” e eu perdi. Ainda bem que tempos depois saiu em DVD.

É incrível como até o pior Hitchcock consegue ser melhor do que muito filme considerado ótimo hoje em dia. E Hitchcock consegue ser o diretor mais famoso de todos os tempos. Se você olhar bem, quantos diretores conseguem ser mais reconhecidos que os próprios atores. Quantos vão hoje em dia ao cinema ver o mais novo Scorcese e não ao mais novo Di Caprio. Quem sabe o Spilberg consegue esse feito mas não são todos que podem reconhecer a figura do diretor. Woody Allen tem esse poder mas não é muito popular. Hitchcock foi , e conseguiu o mérito de conquistar público e crítica (essa nem tanto) em uma época de grandes diretores.

Hitchcock foi extremamente criativo e inovador em seus roteiros. Sua câmera fez escola e no mais suas histórias de bastidores não menos saborosas dariam ótimos filmes.

Antes da febre “Onde está Wally” , Hitchcock adorava aparecer em seus próprios filmes em pequenas e rápidas figurações. Começou a aparecer sempre no início para não distrair o público por muito tempo. Ele temia que as pessoas ficassem procurando por ele e se distraíssem do enredo. Quase sempre era fácil achá-lo, mas não se podia piscar. Conseguiu até a façanha de aparecer em “Lifeboat” de 1943 que se passa inteiramente em um pequeno barco à deriva em alto mar.
De vários livros lançados sobre o mito o que merece maior atenção é aquele que condensa as várias entrevistas que Truffaut realizou com o Mestre na década de 60. Foi Truffaut o responsável à abrir os olhos da crítica para o já sabido por todos, que Hitchcock era um gênio. Mania essa dos franceses que já adoravam Jerry Lewis quando esse ainda era desprezado na sua América natal. Voltando ao livro, é uma dessas Bíblias do Cinema, um dos melhores para aqueles que possuem algum tipo de fascínio pela sétima arte. Aprendi muito com ele.

Por uma daquelas coincidências do destino está passando na TV um desenho dos “Flinstones” onde Fred e Barney vão à um estudio assistir as filmagens de “Uma pedra que cai”.

Eu me Recordo

DE todos os filmes que assisti, foi de Felline um dos únicos em que me recordo exatamente a data em que o ví pela primeira vez: 31 de Outubro de 1993 (para os mais precisos 1º de Novembro, já que passara da meia noite). Foi a primeira vez que ví um filme desse que foi um dos maiores cineastas de todos os tempos (e ainda o é). Tão grande que virou até adjetivo. 31 de Outubro foi o dia em que Felline finalmente completou sua obra. E Anjos Pagãos desceram à Terra e o levaram para o lugar que vão os únicos. E fizeram também com que a Globo deixasse de lado algumas explosões e exibisse um outro tipo de arrombo, o criativo, e passou “Amarcord”.

Na época eu não estava tão ligado em cinema que não fosse o Hollywoodiano. Não fosse pelo jornal da Globo eu nem assistiria o filme, mas fui em frente. Até então meu referêncial de grandes diretores era Spilberg e George Lucas. Não foi um causa tão nobre como gostaria , mas enfim, teve sua função.

E o filme me conquistou. De alguma forma que não sabia bem como, Felline conhecia a minha família e fez um filme sobre eles. Estava tudo lá, as Tias neuróticas , os almoços com todos falando ao mesmo tempo, desentendendo-se e metendo-se na vida de cada um.

Fiquei um bom tempo sem ver nenhum outro filme do diretor. Simplesmente porque a TV nunca passava e porque as locadoras de minha cidade não possuiam nenhum vídeo sequer deste grande mestre (e ainda não possuem). Somente ao entrar na Faculdade , ao conhecer um novo amigo cujo pai adorava “Amarcord” e tinha gravado. Não conhecei o pai dele que morreu antes que me fosse apresentado, mas sem dúvida tinha bom gosto.

Com o tempo , novos contatos , a ascensão da Internet me deram a chance de ver novos filmes dele. Desde o belíssimo “La Estrada” até “La voice de la Luna”. Talvez o melhor Felline que já vi foi “A doce Vida” ou até mesmo o espetacular “oito e meio”, mas o meu coração não deixa com que “Amarcord” perca o seu lugar na história. A minha.

+ Listas

Já falei anteriormente da mania de se fazer listas. E como já disse L.F.Veríssimo no seu ótimo (redundância) “Banquete com os Deuses” é mais fácil criticar a dos outros do que se fazer a sua.

E poara aqueles que além de tudo gostam de cultura pop, um filme indispensável é “Alta Fidelidade”, onde John Cusack interpreta um sujeito que adora fazer de sua vida uma sucessão de listas: “as 5 melhores músicas qdo se leva um fora”, “As 5 melhores garotas que namorei”, “Os 5 melhores discos de todos os tempos”, entre outras.

O filme é baseado no livro homônimo de Nick Horby. Não tem a mesma força do livro mais ainda assim é uma ótima opção, principalmente se você está na faixa dos 30 anos e adora música pop. Ou melhor, acredita que a música pop pode mudar vidas.

Como bem disse Horbny a musica pop é boa porque é descartável. Fica difícil definir o que é uma boa musica. Dependendo do momento de nossas vidas aquela musica que até a pouco considerávamos ruim pode ter uma nova importância para nós. Ou com o passar do tempo podemos ver coisas diferentes em uma mesma canção que há muito nos acompanha, as palavras adquirem um novo sentido. Uma magica que só a musica pode conceber. E sem falar que assim como em um filme, uma trilha sonora é indispensável na vida (esqueçamos Antonioni).

Muitas vezes é impossível não associarmos determinada musica de um momento de nossa vida. Quem não se lembra da primeira vez que ouviu determinada musica, o momento, o que sentiu, para quem estava olhando.

Para muitos a musica pop adquire uma importância maior do que a merecida porque para esta mesma pessoa ela faz parte de algo. Às vezes fica até difícil dela perceber o porque de não causar a mesma paixão para outras.

Voltando ao Nick Horby , muitos de seus livros já foram adaptados para o cinema. O inglês “Febre de bola” troca a paixão pela música pelo futebol, mas no fundo é a mesma coisa. Acaba de ganhar uma nova adaptação, desta vez americana. Um outro filme escondido nas locadoras é o ótimo “Um grande garoto”, com Hugh Grant, um bom-vivant, que vive dos direitos autorais de uma musica de natal que seu pai fez na década de 60, cuja vida adquire um novo sentido quando um garoto surge em sua vida e tenta fazer com que ele e sua mãe formem um casal.

Não tem muito a ver com o assunto mas como estou escutando Belchior me deu vontade de citá-lo: “ O passado é uma roupa que não nos serve mais”.

A Hora da Verdade

O infeliz título dado em português para “Karatê Kid” se explica. Nos anos 80 tivemos uma avalanche de fotas que trazia “a hora” no título: “A hora do espanto”, “A hora do Pesadelo”, “A hora do lobismomem”, “A hora da Zona Morta” (!) e uma centena de outros mais esquecíveis.

Aliás, títulos em Português são quase sempre uma piada à parte. “Teen Wolf” (Lobo adolescente) recebeu o ridículo nome de “O Garoto do Futuro” que não tem nada a ver com o filme. “Godfather” (Padrinho) virou “O Poderoso Chefão”, título no qual se perde todo o sentido ambigüo do original. “Die Hard 2” (Duro de Matar), não satisfeito com o 2 no título , foi acrescentado um “Mais Duro Ainda”, que , definitivamente , não pegou bem.

“Rushmore” ficou com o ridículo “3 é demais”. “Unbreakable” (Inquebrável) recebeu o infeliz “Corpo Fechado” , querendo dar um sentido mais místico (e ainda por cima de Ubanda) à um filme de super-heroi. “The last Boy Scout” ficou “O Último Boy Scout – O jogo da Vingança”, mas o que diabos Boy Scout siginifica ? (antes que me critiquem eu sei o que é). “Annie Hall” ficou “Noivo neurótico, noiva nervosa”. E a lista vai além.

Portanto não se assuste ao pegar um filme com o nome tipo “Homens brancos não sabem enterrar” (se bem que esse é quase parecido). Pode ser que um bom filme esteja escondido.

pode o Homem Voar ?

Christopher Reeve sempre será lembrado como o “Superman”. De fato, é difícil lembrar de um outro filme que ele tenha feito. Fora o cult “Em algum lugar do passado” dificilmente alguém lembrará de outro papel que ele tenha representado (vale a pena conferir o ótimo “Vestígios do Dia).

Durante anos “Superman” foi o único filme baseado em quadrinhos que possuia alguma qualidade. Não conheço ninguém que não goste dele. Durante anos era figurinha fácil em qualquer “Sessão da Tarde”. Hoje é carimbada.

Devia Ter pouco menos de 10 anos quando o filme passou a primeira vez na TV. Lembro-me bem porque simplesmente não pude assistir. Não por falta de interesse ou qualquer coisa que o valha, mas porque meu pai não me deixou, devido ao horário (É naquela época, depois das 9 era hora de ir para cama). Foi a primeira grande revolta da minha vida. De nada valeu o escândalo.Fora o fato já ter sido ruim o suficiente , no outro dia tive que agüentar todo mundo na escola comentando o filme.

A primeira vez que consegui finalmente assistir eu não me lembro. Mas o filme era o máximo. O cartaz original estampava “Você acredita que o Homem pode voar ?”. Sim, podia.

Os efeitos eram o máximo. A história era o máximo. E ainda por cima tinha Marlon brando, que eu não fazia idéia de quem era, mas ele estava lá.

Mas o meu favorito era o 3º filme (o mais fraco eu sei, eu sei) só pela cena dele brigando com seu clone (e pela gracinha da Lana Lang). Contribuía o fato de ser raro dele passar (o SBT passou uma vez que eu sei).

Passaram-se os anos e eu fui assistir ao quarto filme no cinema. Devo Ter gostado na época mas é um lixo. Nada de memorável, só os “defeitos especiais”.

De qualquer forma, mesmo vistos hoje, os dois primeiros dirigidos por Richard Donner (o segundo parcialmente) não perderam sua força e continuam enchendo os olhos de qualquer criança (inclusive a interior).

E para os mais cinéfilos ainda é tempo de lembrar do Ned Beatty, Gene Hackman e o Terence Stamp. Indispensável, ainda mais em tempos de Super-Revisitados.

Listas que amamos odiar

Se é impossivel fazer uma lista dos “melhores” que agrade a sí próprio, imagine então agradar aos outros. Fazer listas é ao mesmo tempo algo delicioso quanto inútil. Ela logo vai ser superada. Tentar colocar em ordem de melhores então nem se fala.

Na minha infância eu poderia listar sem dúvida nenhuma a triologia Guerra nas Estrelas , os Indiana Jones, De volta para o Futuro, Superman, Fúria de Titãs, O enigma da Pirâmide, Em algum lugar do passado (pode acreditar), Os Goonie, Gremlins e A hora do Pesadelo.

Depois veio a problemática adolescência e a fase Stephen King e Kevin Costner (atire a primeira pedra quem não vibrou com “Os Intocáveis”, “Fandango” e “O Campo dos Sonhos”). Qualquer porcaria do Stephen King que chegasse na locadora era saudada. It, Cujo, Cemitério Maldito, Tommyknockers, Sonâmbulos.

Depois veio a fase marginal. Pulp Fiction, Laranja Mecânica, O Iluminado, Trainspotting, Brazil (por algum tempo o meu favorito), Taxi Driver, Coração Satânico, O Poderoso Chefão, Fargo. Esta fase ainda está bem presente nas minhas lista.

Um tempo depois descobri o prazer de ver filmes do Woody Allen e Hitchcock. Foi uma mudança bem radical para quem curtia pouca comédia e quando do nível de “Quanto mais idiota melhor”, “Top Gang” e aí por diante (um Mel Brooks aqui outro alí, Os Monthy Phyton, Peter Sellers salvavam minha moral).

Com o tempo fui descobrindo Felline, Antonione, Orson Wells, Truffaut, Kurosawa, Gus Van Sant, Pasoline, Monicelli, Dario Argento, Walter Hugo Khouri, Frank Capra, Almodóvar, Robert Altman, Hector Babenco, Ingmar Bergman, Luis Buñuel, Charles Chaplin, Jean Cocteau, Coppola, George Cukor, Michael Curtiz, Vittorio De Sica, Stanley Donen, Serge Eisenstein, Rainer Werner Fassbinder, Marco Ferreri, John Ford, Billy Wilder, jean Luc Godard, David W. Griffith, John Huston, Elia Kazan, Krzysztof Kielowski, Fritz Lang, Spike Lee, Sergio Leone, Louis Malle, George Mélies, Murnau, Nagisa Oshima, Sam Peckipah, Alain Renais, Roberto Rosseline, Nelson Pereira dos Santos, Martin Scorcese, Steven Soderbergh, Jacques Tati, Luchino Visconti, Lars Von Trier, ZhangYimou, Ang Lee, Takeshi Kitano e tantos outros.

Fica portanto hoje difícil de conciliar tantas fases distintas com o que vi até agora. “Guerra nas Estrelas” pode não ser tão bom quanto um “Morango Silvestres” por exemplo, mas como excluí-lo de uma lista minha, tamanha a importância dele quando era pequeno. Sob esse mesmo ponto de vista, se eu olhar apenas friamente, alguns filmes que me marcaram nunca entrariam em uma lista séria, como é o caso de “Os Goonies”, “Brazil”, “Fúria de Titãs”... “Cidadão Kane” tem de estar na frente, mas eu prefiro “Casablanca”. Hitckcock e Billy Wilder monopolizariam a lista. Como decidir entre “Quanto mais quente melhor” e “Se meu apartamento falasse”, “Um Corpo que Cai” e “Intriga Internacional”, sem falar que sou grande admirador de “Rebecca”.

E os Bogarts ? E “Pacto de Justiça”, “Laura”, “Crepúsculo dos Deuses”, “O Segredo das Jóias”. Fora o carinho especial que tenho por “American Graffiti”. Não estaria na lista dos melhores de ninguém mas, quem viveu os anos 80 pode até esconder, mas “Porky´s” foi importantíssimo.

Bem, acho que vou ficar com os do Kevin Costner.

Tarantinices

Não me recordo qual foi o primeiro filme que assisti na vida mas sei com certeza qual foi o primeiro que mudou a minha concepção de cinema. “Pulp Fiction” foi para mim o mais importante filme dos anos 90. E não sem razão.

Voltemos um pouco no tempo. Era uma noite de Segunda-feira. Estava deitado na cama de um hotel barato da cidade de São Carlos, ao lado dos trilhos do trem, assistindo maravilhado mais uma cerimônia do Oscar (ainda não tinha caido a ficha da palhaçada que esta festa é). Corria o ano de 1995. Era meu primeiro ano de faculdade e aí estava eu sozinho em uma cidade estranha, sem conhecer ninguém.

Na transmissão alguns flash de uma festa em São Paulo com convidados famosos ou nem tantos que juntos assistiam à premiação. Cortesia do SBT que transmitia o prêmio naquele ano e tentava transforma-lo em algo popular. Uma bolsa de apostas entre os “famosos” (ei, estavam na TV não é ?) se dividia entre o filme em questão e o meu favorito “Forrest Gump” de Robert Zemicks. E eu me indignava com as pessoas que davam como certas a vitória desse tal de “Pulp Fiction”. Terminada a cerimônia, Tom Hanks e Zemicks vitoriosos, eu lá com um sorriso de satisfação nos lábios (santa ingênuidade).

Alguns dias depois, em uma Sexta-feira ao sair da faculdade passei no cinema no Centro da Cidade (que deve ter tido dias mais gloriosos) e lá estava ele em cartaz: o tão comentado “Pulp Fiction”. Entrei no cinema com um misto de desconfiança e receio (diziam que era extremamente violento). Ao termino de suas mais de 2 horas de projeção sai anestesiado pelas ruas da cidade em direção ao mesmo Hotel de sempre. Minha mente estava confusa, cheia de pensamentos, uma estranha euforia que não sabia muito bem como classificar. Eu tinha acabado de ver o filme de minha vida, pensava.

Tarantino com seus diálogos deliciosamente pop, com sua câmera inquieta e uma edição memorável fazia escola. Na época eu não me interessava muito por essas coisas mas a essência toda estava lá, entrando em meu corpo como um vírus destruindo tudo o que havia enraizado no âmago de meu ser.

E não só comigo. Esse efeito era notado em todo o cinema, desde o independente até o mais comercial. Todo o cinema do mundo, desde o americano, passando pelo europeu e até o brasileiro se rendia às Tarantinices do cinema no final do século.

A primeira coisa que fiz quando acordei naquele Sábado para ir à mais uma torturante aula de manhã na Faculdade, foi passar em uma loja no centro da cidade e procurar a trilha sonora do filme. Aquela cena da Uma Thurman (não sabia o nome dela a época, apesar de já a ter visto em algum lugar) dançando e cantando em seu apartamento não saia de minha cabeça. E o fato de morar em uma cidade pequena do interior fazia com que eu não ficasse exposto à intermináveis execuções dela em tudo o quanto era lugar.

Voltei algumas vezes no cinema para rever o filme , desta vez com mais calma. E foram intermináveis 6 meses até que a fita chegasse enfim às locadoras. Era até uma época que eu não tinha medo do fato que ela pudesse não chegar à minha cidade. Chegou, enfim.

O tempo passou, o filme está aí para todos verem. O Cinema do Centro da cidade deu lugar para mais uma Igreja (e não adianta ir lá porque eles não vendem pipoca).

Aquela Época Ridícula e Inesquecível

O que mais me incomoda no cinema americano comercial, ou seja, Hollywoodiano, é a falta de compromisso com a realidade. Não estou falando claro de ficções e gêneros do tipo , mas de títulos mais banais, como os que retratam os adolescentes. Se a sua vida parece mediocre quando comparada com os personagens que se vê na tela não se desespere. É apenas um conto de fadas moderno fornecido pelos donos de estúdios. Só não se iluda, sua vida é mediocre mesmo.

É aqui que surge o cinema independente americano, que desmente o fato de que o cinema daquele país seja só lixo como atestam alguns. E não que os filmes independentes sejam só maravilhas , mas até os medianos estão anos-luz à frende dos “suportáveis” hollywoodianos (salvo raríssimas excessões, mas que me lembre nenhum desse “Gênero”).

Talvez o melhor exemplo deste contraponto seja “Bem vindo à casa das Bonecas” de Todd Solondz. A história é banal: garota feia e mal vestida de 11 anos é odiada na escola e desprezada em casa pelo pai passivo e pela mãe que descaradamente prefere a outra filha, bonitinha e bailarina. Enfim, mais um daqueles personagens típicos de comédias – românticas escolares.

Mas é aí que mora o engano. Ao contrário da maioria deste tipo de filme, Dawn Wiener , a garota, não se revelano fundo uma garota maravilhosa, sensível ou especial. Ela é realmente mediocre e desajustada , a tal ponto que nem se dá conta disso. Ela é igual à todos que a desprezam. Ela se vinga , fazendo o mesmo que fazem dela com aqueles que estão abaixo dela. O único adolescente que possui algum tipo de afeto por ela marca uma hora atrás da escola para poder estuprá-la. E ela comparece.

É nesse retrato cruel da adolescência que o diretor Solondz (que mais tarde provou ser mais polêmico que gênial no superestimado “Felicidade” e no melhorzinho “Storytelling”) nos faz pensar na verdadeira natureza humana e na tormenta que é ser adolescente. Para os que já passaram por esta fase resta somente rir das desaventuras da personagem (sim, o filme é uma comédia).

Com tema parecido, mas menos polêmico, temos também “Rushmore” de Wes Anderson (Os Exêntricos Tennembauns). No Brasil ele recebeu o ridículo titulo de “3 é demais”. No elenco além de Bill Murray, que parece ter encontrado um novo rumo na carreira, temos o jovem Jason Schwatzman que recentemente estreou a gênial comédia “I (heart) Huckabess” de David O. Russell (A Mão do Desejo, 3 Reis, Procurando Encrenca).

Mesmo que nem todos os filmes independentes não sejam ótimos pelo menos eles possuem uma qualidade inegável; fazem pensar. A grande maioria não decidem por você na conclusão da história.


Talvez com isso eles afastem o expectador comum que tiveram os neurônios fulminados pela máquina hollywoodiana, pessoas que adoram filmes com Julia Roberts, acham Vin Dísel o máximo e se emocionam com pérolas como “O mistério da Libélula ”. Essas pessoas não gostam desse tipo de filme, não conseguem entendê-los e não percebem como essa tarefa é simples: é só olharmos para dentro de nós mesmos e refletirmos por um momento.

Aí é só um passo para começar a entender o cinema nacional (desprezado por antecipação), o francês , o alemão , o japónês e a partir daí partirem para filmes mais profundos (ou pelo menos , Menos Idiota).

Elementar, meu caro Watson !

Um filme injustamente esquecido pela maioria é o “Enigma da Pirâmide” do Barry Levinson. Não é nenhum clássico mas sem dúvida é daqueles que marcaram muitos da geração oitentista.

Esqueça os livros de Conan Doyle. Aqui, Sherlock é Watson se conhecem ainda na adolescência e o filme trás momentos saborosos para aqueles “iniciados” no personagem. E para os que não conhecem sobra aventura suficiente. Muitos acreditam até hoje que o filme é dirigido pelo Spilberg. Não é verdade, mas não há como negar o dedo no cineasta em cada detalhe da película.

Acredito que seja por esse filme o fascínio que tenho por estórias passadas na Londre Vitoriana ou em ambientes parecidos com a escola de “Adeus Meninos”, o mosteiro de “O nome da Rosa” (com aquele James Bond mais velho, como lembrado por Jorge Furtado).Nicholas Rowe e Alan Cox estão perfeitos como Sherlock e Watson e foi a primeira vez que me lembro de Ter ouvido “Carmina Burana” de Carl Off. Hoje aquela cena final já foi copiada centenas de vezes , mas ainda mantém seu charme.

Não é dos melhores filmes do mundo, mas quem assistiu quando criança nunca esquece, apesar de às vezes precisar de um empurrãzinho na memória. E o melhor, como quase tudo hoje em dia, se encontra em DVD.

Luke ! Eu sou seu Pai !!

Quando eu era pequeno comprei um guia de filmes “especial para a garotada” escrito pelo Rubens Ewald Filho. Na época eu não me interessava necessariamente por cinema, mas a capa , com o Superman, a Mônica e o He-Man (!) me atraiu.

Depois de algum tempo eu já tinha decorado todas as críticas e informações do livro. Sabia tudo sobre filmes que eu nunca tinha visto. Era incrível como o autor conseguia transmitir o fascínio dele por cinema para a gente. Foi lá que aprendi que o filme não necessita ser perfeito para agradar, que pode-se gostar de “Scarface” por exemplo, mesmo reconhecendo suas limitações e excessos.

Tinha no livro uma foto do filme “Índiana Jones e o Templo da Perdição”, com o Harrison Ford (não fazia nem idéia de quem era na época) e a Kate Caphraw ma neve (revendo a foto hoje percebo que estão em um bote inflável, descendo o rio, mas tudo bem). Ela usava uma roupa branca e ele seu caracteístico traje escuro com chapéu. Porém na crítica dizia que ele no começo aparece diferente do filme anterior, de smocking branco, elegante e por algum tempo eu pensei que “a Indiana” fosse a kate Caphraw. Coisa de criança.

Na mesma época consegui uma fita de Atari chamada “Caçadores da Arca Perdida”. Não conseguimos jogá-lo direito e uma vez um amigo meu que tinha ganho um video recentemente conseguiu alugar à fita (pirata claro) , mas não conseguiu nenhuma informação que ajudasse no jogo. Naquela época as intermináveis reprises ainda não haviam tomado conta da televisão.

E foi também na mesma época que assisti a estréia na TV de “O Império Contra Ataca”. Me lembro exatamente do momento, na casa de meus avós, com a tv sintonizada na Globo, à noite. Ainda não existia a “Tela Quente”. Foi o filme que mais me marcou a infância e através do guia fiquei sabendo da existência de mais dois episódios da saga. E era muito difícil achá-los na época, pelo menos por aqui. Tinha apenas em uma locadora “O retorno de Jedi”. A febre das locadoras ainda estava no início, esta em questão fechou e eu não consegui assistir.

Finalmente, em Bauru, na casa da Avó de uma Tia que eu consegui maravilhado assistir a tão esperada continuação daquele final em aberto do capítulo anterior (uma ousadia na época e até hoje). Os Ewoks na época eram o máximo para a molecada. Hoje são ridículos.

E por fim consegui assistir ao primeiro dos filmes, o famoso “Guerra nas Estrelas” (hoje mais conhecido como Episódio IV – Uma nova Esperança, mas para mim o verdadeiro “Guerra nas Estrelas” e não “Star Wars” como quer o Marketing). Mas o melhor era sem dúvida o “Império contra ataca”, o primeiro de todos para mim. Vai ver é por isso que não acho estranho Ter de assistir aos novos episódios cronologicamente anteriores aos fatos mostrados na série antiga.
E finalmente estreava o “Retorno” na Tv. Foi o primeiro filme que passou na já citada “Tela Quente” . O segundo foi uma aventura chamada “A Fortaleza” (não me pergunte como me lembro disso) . Nunca soube nada sobre esse filme e nem conheço ninguém que o assistiu. Só sei que era sobre um grupo sequestrado e mantidos em um caverna.

Adorava me vestir de preto como o Luke Skywalker em o “Retorno”. Lembrei-me também de Ter tido uma mascara de Darth Vader que vinha no Nescau antes de saber do que se tratava. Nunca mais a achei. Carrego essa frustração até hoje.

Quando já nem tinha mais esperanças eis que finalmente George Lucas anunciou que iria completar a saga. Era a Guerra nas Estrelas Mania voltando à toda. Acompanhava as notícias pela Internet e depois de várias especulações finalmente estreou no final de Junho de 1999. Foi o dia em que nasceu a filha de um amigo e ele não pode ir assistir. Os tempos eram outros.

Foi emocionante quando as luzes se apagaram e depois de intermináveis traillers apareceu aquela frase em azul que topos estão carecas de conhecer. Por pouco mais de duas horas voltei a ser novamente criança, fato o qual mais admiro no poder do cinema. Um amigo que estava comigo no dia falava mal do filme. Ele não tinha assistido à série quando criança e não partilhava da mesma emoção. Hoje até compreendo ele. O episódio I é frio e sem vida. Não chega a ser ruim como muitos adoram massacrar, mas serve mais como prólogo para fãs da série. Não cativa muito.

Houve uma época, ainda no final dos anos 80, que consegui gravar o “Império” na TV. Em determinado momento já tinha visto ele 48 vezes. Hoje perdi a conta, mas não o vi muito no decorrer da década de 90 . No dia que os antigos estrearam novamente nos cinemas , em 97,em edições especiais cheguei a assistir os originais à tarde e depois ir ao cinema para ver as mudanças. Quando passou o “Retorno” decidi fazer algo que sempre tive vontade. Sentar-me nas primeiras fileiras para ver aquela cena de perseguição nas florestas de Endor de perto.

Para muitos é loucura, mas tenho pena daqueles que não tem como voltar a Ter aquela velha sensação legítima de voltar a ser criança outra vez.

Quando Eles eram Bonzinhos

Devo confessar que nunca assisti à “E.T.” quando criança. A única lembrança que tenho do filme quando pequeno era da minha tia falando que levaria eu e meus primos para assistir no cinema (o video ainda era um sonho) se o filme voltasse a passar. Promessa essa nunca cumprida. E eu não me lembro de Ter assistido na televisão. Conhecia apenas aquelas cenas já memorizadas no imaginário popular, cuja mais famosa virou símbolo da Amblin do mesmo Spilberg.

Foi assim até eu Ter uns 20 anos. Tive a chance de assisti-lo antes, mas a incomoda adolescência me impedia de alugá-lo. E , surpresa, o filme me conquistou com todas as forças. Mas não vou perder tempo falando sobre o filme, todos o conhece muito bem (me recuso à acreditar que ainda exista outro “eu”), e além do mais o filme é tecnicamente perfeito. Se existe quem não gosta é porque não teve infância. Nelson Rodriguês declarou que “toda unanimidade é burra”. Ele tem razão, mas aqui é uma questão de sentimentos e não de inteligência.

Tempos atrás “E.T.” voltou ao cinema, ligeiramente alterado, com efeitos melhorados para a nova geração e cenas inéditas. Finalmente consegui vê-lo em seu verdadeiro lar, a tela grande (e no original, em inglês !). Agora tudo está completo. Só faltou minha tia e meus primos, mas acho que eles nunca levaram isso à sério.

Labirinto

Este é daqueles filmes que decepcionam quando visto atualmente, principalmente pela música anos 80 de David Bowie, o atrativo máximo do filme quando se tinha 10 ou 15 anos e que hoje soam datadas e sem inspiração. Basta ouvir qualquer coisa que o cantor tenha feito anteriormente e/ou atualmente para comprovar o mesmo. Quem sabe “Underground” se salva mas as outras lhe diminuem o impacto. “Magic Dance” beira o insuportável. Isso sem falar no visual de Bowie como o Rei dos Duendes (onde acharam aquela peruca !!).

Mas antes que me atirem as pedras, nem tudo é mal. Eu disse apenas que decepciona. O filme continua interessante, ainda mais se comparável com o que se faz hoje. Mas não gosto muito dessas comparações. O filme deve Ter atrativos por sí só, e não para tampar buracos. Os bonecos de Jim Henson (Muppets) são ótimos e o roteiro foi escrito por Terry Jones, um dos malucos do Monthy Phyton. Isso sem contar pelo menos 3 momentos brilhantes e inspirados. E claro, o principal motivo, que é a gracinha da Jennifer Connely, que hoje , depois de anos sumida virou uma grande atriz (Casa de Areia e Névoa, Réquiem para um Sonho, Águas Negras), ao contrário de muitos astros mirins.

E já que citei o nome de Henson, outro filme que me lembro com carinho é “O Cristal Encantado”. Na época era meio assustador. Hoje deve ser brincadeira de criança. Nem sei se desejo vê-lo novamente. Tenho o DVD na estante, mas o melhor deve ser conservar a magia e não fazer o que fiz com “Labirinto”.

E Labirinto por Labirinto melhor ficar com o do Fauno.

O Céu

Ainda não me decidi qual é a minha idéia e Céu. Por ora seria em branco e preto. E ainda não sei se quem me receberia seria a Anita Ekberg ou a Gene Tierney.

Bogart estária no fundo, segurando um copo de bourbom, enquanto Dashiell acenaria, mostrando-me onde está. Depois de algumas doses, Fred MacMurray se junta à nós e as luzes se apagam. A banda de Glen Miller começa a tocar e o ambiente vai mudando, ficando mais glamuroso, a medida em que Lana Turner, Rita Hayworth, Mary Pickford, Ingrid Bergman fossem chegando.

Marlon Brando também estaria lá, mas os são os olhos dela que estariam direcionados à mim – uma tímida, porém sorridente Audrey Hepburn em um vestido preto e opulente. Ela aceitaria uma dança e como no maior clichê a música mudaria de ritmo e assim como Richard Beymer e Natalie Wood , só haveria nós no salão. E já que citei a Natalie...

Mas quem sabe o Céu também pode ser colorido, como o sol de verão, mulheres com franja na testa e lápis nos olhos. Uma Swinging London, habitada por criaturas como Vanessa Redgrave, Sarah Miles, Jane Birkin e Brigitte Bardot (mas não acredito, pelo menos por enquanto). Enfím, mutável.

De qualquer forma seria o Céu.

A Comédia Política (ou rindo de nós mesmos)

“Édipo não se cegou por culpa, mas por excesso de informação” (Foucault)

Em tempos de crise política é interessante notar como o cinema argentino consegue retratar as mazelas econômicas que assolam o páis de uma forma universal e criativa.

O primeiros desses filmes a fazer sucesso por aqui (e no resto do mundo) foi o divertido “9 rainhas”, que conta a história de dois trambiqueiros que se encontram por acaso e recebem por sorte do destino a chance de conseguirem uma “bolada”, vendendo uma série rara de selos (as 9 rainhas do título) para um colecionador em fuga do país (um deputado corrupto cheio da grana). Para o expectador mais atento está tudo aí: o modo de vida, os desejos e falta de ética de uma maioria da população, centrada nas duas figuras (não por acaso trambiqueiros simpáticos). De fundo , uma Argentina pré-crise. E é incrível constatar como a “européia” Argentina, aqui, se parece com o centro decadente de São Paulo.
Os americanos refilmaram “9 rainhas” no ano passado. Por aqui teve o oportuno título de “171” e já se encontra nas locadoras. A história é a mesma, mas perdeu toda a inteligência e implicações políticas do original.

E enquanto os cineastas brasileiros ficam mendigando ajuda do governo a Argentina fez mais uma obra prima. Trata-se de “O Pântano” de Lucrécia Martel. Fez grande sucesso no circuito alternativo brasileiros e pode ser facilmente encontrado em DVD. É possivelmente o melhor título a pintar por aqui esse ano.

O “Pântano” é cinema político de primeira. Talvez não o típico filme político a que você esteja acostumando já que se trata de uma comédia. A primeira cena já diz ao que veio: Um grupo de pessoas . reunidas à beira de uma piscina imunda. Uma delas cai e se machuca enquanto ninguém faz nada para ajudar. As crianças (o futuro) parecem viver em um mundo à parte.

Em outra cena , estas mesmas crianças encontram uma vaca atolada no charco. A morte é iminente, não à nada a se fazer. Mais direto impossível. É uma síntese precisa de uma sociedade em crise e que guarda mais particularidades com a nossa do que aceitamos à acreditar.

Ambos os filmes são um ótimo retrato social e político, feito com inteligência e que está anos-luz á frente dos títulos alienantes que reinam nas prateleiras. Uma comédia caustica que se vista com um olho crítico e um mínimo de inteligência se transformará numa ótima lição sobre a natureza humana

A parte acima do texto foi escrita há um tempo em razão da crise na Argentina. Infelizmente se assemelha bem ao que o Brasil está passando. O clima de “eu já sabia” sobre os escândalos do Governo serve também para ilustrar o individualismo, a falta de ideologias e do posicionamento moral do povo brasileiro, melhor traduzido como o famoso “jeitinho brasileiro”.

Dois outros títulos interessantes são dois filmes alemães imperdíveis. O primeiro , “Adeus Lenin” conta a história de uma mulher, comunista ferrenha, que, momentos antes da derrubada do Muro de Berlin e da mudança de regime, entra em coma. Ao acordar o médico adverte ao filho que ela não pode ter grandes emoções devido ao seu estado. Assim, ele , como a ajuda de um amigo e do resto da família, escondem o fato dela e fazem de tudo para que ela pense viver no mesmo país de antes. O filme é gênial, irônico e crítico, sem ser chato e panfletário. O outro título é “Edukators” , sobre um grupo de jovens que entram em casas de ricaços enquanto estes viajam e “redecoram-a” a seu gosto.

E já se encontra nos cinemas o mais novo filme de Danny Boyle (Trainspotting, Extermínio), “Caiu do céu”. O filme tem lá suas falhas mas é interessante acompanhar a história de dois garotos que perderam a mãe. O mais novo e suscetível deles interessa-se por Santos e vive isolado. Um dia , uma mala de dinheiro cai do céu. São pelo menos 300 mil libras e à poucos dias a moeda mudará para o Euro. O menino quer doar para os pobres, achando que é isso que Deus quer dele, mas seu irmão tem motivos bem menos nobres para o dinheiro. Enfim é o quadro social que o filme retrata o que mais interessa no momento. Não é o mais profundo dos filmes é interessante notar como os temas estão ligados;

Por fim, já que o assunto é política, com a recente revelação de um dos maiores mitos jornalísticos dos últimos tempos, a identidade sobre quem era “garganta profunda”, informante chave do caso Waltergate, o escândalo que causou a renúncia do Presidente Nixon, uma boa pedida é o filme “Todos os Homens do Presidente”, com Robert Redford e Dustin Hoffman. É antigo mas quem sabe com ele aprendamos alguma coisa sobre os homens do Presidente.

Molly , a garota que costumava usar Rosa

Molly quem ? você não deve estar associando o nome com a pessoa. Prova que o sucesso as vezes é passageiro, esta ruivinha de nome hoje desconhecido, foi um dos mais conhecidos dos anos 80. Seus filmes eram sucessos, assim como os da Kelly Lebroock (quem ?) e Darryl Hanna (que voltou com tudo em Kill Bill).

Você com certeza conhece. É aquela ruivinha bonitinha de filmes adolescentes como “Clube dos Cinco” e a “Garota de Rosa Shocking”. Não se lembra ? Ei vocÊ nasceu depois de 1980, ou antes de 1970 ?

Fenômeno estranho este. Seus filmes foram febre em vídeo nos anos 80, a Globo passava constantemente e hoje quase ninguém lembra do seu nome.

Hollywood fabrica astros estantâneos, mas não cria mais mitos. James Dean é cultuado até hoje, com apenas 3 filmes no currículo e seu nome é conhecido de muitos que nunca viram um filme seu (a maioria). Tentaram fazer de River Phoenix um novo Dean , mas foi em vão. Hoje muitos não ouviram falar de seu nome.

Muitos nomes hoje conhecidos e procurados nas locadoras vão ser esquecidos nos próximos 10 anos. Os mais novos não sabem nem quem é Sandra Bullock e parece difícil de crer que seus filmes eram esperados ansiosamente há pouco tempo atrás.

Em tempo, Molly participou recentemente de alguns filmes, como de terror adolescente que nem vale a pena ser lembrado e em uma ponta antológica (para os poucos que se lembram dela) em outro filme esquecível (desta vez uma comédia boba).

É, Hollywood tem destas.

Aquele estranho Ser das Sextas à Meia Noite

Infelizmente não me lembro qual o primeiro filme que assisti na vida. Deve ter sido algum dos trapalhões, penso eu. Mas a lembrança mais antiga que tenho de um filme é de um de lobisomem, quando eu tinha 6 anos. Embora eu não me lembre do nome e nem do enredo, gosto de pensar que foi “Um Grito de Horror” de Joe Dante, mas acho difícil que tenha passado na TV aqui no Brasil em 1981, ou no mais tardar 1982.

Eu me lembro que fiz um pequeno escândalo para pode assistir. Devia ser por volta das 10 da noite. Fiquei sozinho na sala , assistindo boa parte do filme, mas no melhor momento, quando finalmente mostrava o sujeito se transformando em Lobo, eu corri para o quarto de meus pais e me enfiei no meio deles, deixando a TV ligada na sala.

Passaram-se mais alguns anos e eu finalmente consegui assistir a um filme de Lobisomem. Era o ótimo “Um lobisomem americano em Londres”, que passou na TVS. As inúmeras reprises deste filme (juntamente com “Férias do barulho” com Johnny Depp) fizeram dele um filme injustiçado. A TVS abusava mesmo, chegando ao cúmulo de passar na “Sessão das 10” e já reprisar à meia-noite, para “aqueles que não chegaram em casa antes”.

O fato é que o filme é um cult absoluto e indiscutível, culpa da excelente maquiagem de Rick Baker e do íncrivel humor que pontua as cenas. Isso sem falar na melancolia estampada na película e na comovente cena de transformação (a melhor, ao lado de “Grito de Horror”). Dos tempos em que ainda sabiam fazer filmes de terror e não diretamente para adolescentes. Basta comparar (não, comparar é blasfêmia) com o pseudo-filme “Um lobisomem americano em París” (que de bom só a gracinha Julie Delpy).

Palmas para John Landis , que infelizmente nunca mais deu sinais de talento.

ODIAR É AMAR

Seu humor não faz tanto sucesso no Brasil como nos EUA, e acreditem, é verdade. E seus melhores trabalhos foram fracasso de publico, já que os que o ignoram perderam a chance de ver sua versatilidade e os que curtem suas caretas não entenderam direito.

Começou ainda nos anos 80 como coadjuvante em produções esquecíveis e que nem merecem ser citadas. Teve sua primeira grande chance com o péssimo “Ace Ventura”, sucesso nas locadoras , alvancado pelo ótimo “O Maskara”. As caretas de Carrey, aliadas aos incríveis efeitos visuais ficaram perfeitas, lembrando os clássicos desenhos de Chuck Jones. Acertou novamente com “Deby & Loide”, onde foi comparado com o genial “Jerry Lewis” (um exagero é claro) , mas foi repetindo-se até cansar.

A crítica sempre o esnobou, até que, surpresa, apareceu o brilhante “O show de Truman” de Peter Weir. Carrey casou perfeitamente com o papel. Tantaram vender ele como um ator dramático, mas Carrey está mais engraçado do que nunca, apenas contido e bem dirigido, mas nada sério.
Milagre mesmo veio com o seguinte , a cinebiografia “O Mundo de Andy”, do genial Milos Forman (Um Estranho no Ninho, Hair). Desta vez sim, Carrey está em seu melhor papel. Irreconhecível, contido como nunca, sem caretas. Carrey literalmente mergulhou no papel, convincente como nunca. Quem teve a chance de conhecer o verdadeiro Andy kalfman ficou de boca aberta com a semelhança. Carrey provou que pode ser um bom ator .

Mesmo com os sucessivos fracassos de bilheteria tentou mais uma fez com o “bonito pero mediocre” Cine Majestic. Tanto a crítica , quanto o publico o ignorou.

Ele precisava novamente de um sucesso e foi com o seu pior filme até agora (Ok, ok, pode ser exagero) que ele conseguiu. “Todo Poderoso”, dirigido pelo mesmo diretor de “Ace Ventura” (pelo menos um diretor coerente). Pão e circo para as massas.

Mas Jim não desistiu e aliou-se ao jovem diretor Michael Grody (A Natureza Humana) e ao inventivo roteirista Charles Kaufman (A Natureza Humana) para o grande “Brilho Eterno de uma Mente sem lembranças”. Naturalmente foi outro fracasso de público, mas estes perderam a chance de ver um belo resultado, uma ode ao amor e o trabalho mais bem acabado de Kaufman. E Jim em seu melhor papel, num filme inteligente e “estranho” para os mais acostumados à babas hollywoodianas , que de tempos em tempos dá uma dentro.

É um fenômeno estranho esse Jim. Pena que seu tipo de humor afaste certos expectadores que certamente se deliciariam com esses trabalhos e faz com que escutemos pérolas como “eu gosto dos filmes dele, mas esse é horrível”, que saem da boca do público menos qualificado.

Escalando as Paredes

DIzem que o segundo é o melhor (Concordo) e o terceiro é o pior dos três (Com Certeza) , mas é o primeiro que tornou o segundo possível. O Texto a seguir foi publicado à época do lançamento do primeiro , por isso não reflete a minha atual posição, mas existem verdades que não mudam.

Incrível o filme “O Homem Aranha”. Não me lembro de nenhum outro filme sobre quadrinhos suscitar tantas paixões. O público adorou, a crítica saudou e os produtores nem se fala.

Outro dia um amigo meu me contou espantado que sempre ouve as pessoas na locadora, ao pegarem o filme na mão e comentarem “adorei esse filme”. Realmente, poucos não gostaram.

Mas o que o Homem-Aranha tem de tão especial ?

Para os fans dos quadrinhos foi sem duvida a fidelidade que o personagem foi tratado. Desculpe-me os puristas, mas as mudanças na história (que foram bastantes) não chegaram a nenhum momento a afetar a personalidade do herói.

Para o público em geral é a identificação com o heroi. Ele é real. Não o Homem Aranha, mas o verdadeiro herói da série, Peter Parker.

Peter é um adolescente como qualquer outro, cheio de duvidas e anseios próprios de sua idade. Tem uma tia (que mais parece uma avó) que o mima e um grande amor platônico. E ora, quem não é adolescente pelo menos um dia foi (ou virá a ser). Por mais cínica que for a pessoa em admitir, algo em seu coração vai pulsar.

Para a crítica temos um ótimo roteiro, ótimos atores nos papéis corretos (só Willian Dafoe está um pouco descontrolado) e excelentes efeitos em CGI que parecem reais. Sem falar na direção segura de Sam Raimi, (Evil Dead) que já vinha dando sinais de maturidade desde “Um plano simples” (1998). O mesmo Sam Raimi que já tinha feito um bom-filme-de-quadrinhos-sem-ser-de-quadrinhos, “Darkman” (1990). O filme padece de planos mais ousados, o que seria compensado na parte 2, tecnicamente melhor, mas era só um detalhe perto das grandes emoções proporcionadas pelo filme.

E o mais importante de tudo. Todos querem ser o “Homem Aranha”.

Divagações devagares

Às vezes a mente trai. Tipo quando dois amigos discutem acerca do aconteceu em determinado momento e ambos acreditam ter certeza de que tudo aconteceu da maneira que cada um está contando. E a vida é feita de momentos, estes diferentes e com detalhes que para um insignificantes , para outros nem tanto. A cor, o perfume, a música. Cada peça que compõe diferente a pessoa.. Se temos um código que carregamos conosco, uma herança genética que pode nos identificar , existe , ali em um canto da mente um outro código, este por sua vez só nosso, não-identificável e que nos completa. Um Homem sem passado é um Homem sem futuro.

Para muitos é na infância que passaram os melhores momentos da sua vida, para outros é na adolescência. Uma saudade que o irá acompanhar por cada momento de sua vida. É só escutar uma música , ver um filme e imediatamente a mente nos leva à esse tempo. Por um segundo podemos sentir o gosto de algo, um cheiro característico e pronto. Um turbilhão de emoções que às vezes nem entendemos direito.

O que aconteceria se você pudesse, hoje, voltar ao passado com todas as experiências que carregou na vida até agora ? Na adolescência, por exemplo, parte da vida repleta de acontecimentos na vida de uma pessoa, onde cada dia parece uma vida, cheia de desejos, anseios e insegurança. As mesmas músicas, os mesmos livros e os mesmos filmes.

Seria chato.

Digo isso por que acredito que o grande fascínio que esta época trás , diz-nos respeito a ingenuidade, até mesmo à boçalidade. Qual a graça de se ter novamente 15 anos sem todo aquele prazer da descoberta, sem aquela ânsia de viver e a incrível mentalidade de que podemos mudar o mundo e que com o passar do tempo vai se esfarelando.

Uns podem até contra-argumentar dizendo que naquela época era só curtir a vida, não ter preocupações nenhumas a não ser passar de ano, liberdade para acordar na hora que quiser e sem ninguém encher o saco. Ter isso de novo já valeria a pena.

Até valeria, mas se perderia a essência que faz com que a adolescência nos marcar a alma. O prazer da descoberta (sim eu sei que para alguns é um tormento).

A vida adulta nos trás somente a maturidade, força para podermos lutar com algumas coisas mas poucos prazeres (daqui à alguns anos quem sabe eu mudo de idéia). A maioria das descobertas dessa fase são preferíveis se continuassem escondidas. A constatação que agora você tem poucos amigos e desses poucos, mais poucos ainda não te decepcionarão; que o mundo se move tão somente com dinheiro, que prá tudo existe o jeitinho brasileiro e que a Justiça tem esse nome por mero capricho de alguma mente criativa.
Ei isso está se tornando sério demais !

Filmes também são assim. Recentemente tive o (des)prazer de rever um filme que fora importante para mim na infância. Bem, não tão importante assim, mas eu me lembro de ter gostado dele. Chamava-se “Explorers – Viagem ao mundo dos sonhos” do Joe Dante. Resultado: Decepção. Não que o filme seja totalmente ruim, mas a magia que estava lá simplesmente sumiu e os efeitos, na época sensacionais, ficaram datados. É exatamente o que acontece hoje quando alguns adultos criticam o infantil “Harry Potter”. Realmente, é um filme mediano, quase ruim, mas para a cabeça das crianças trás um fascínio incrível. Há magia aí (sem trocadilhos).

É claro que um adulto que já leu coisas melhores , assistiu à filmes de Felline, Truffaut entre tantos outros não se empolgará mais com esse tipo de filme (não o tipo necessariamente mas a maneira como este em particular foi escrito).

Voltando ao assunto, esta criança de hoje quando tiver mais idade não vai se empolgar novamente da mesma maneira quando rever o filme. Um conselho de amigo é não rever, conselho esse que nem mesmo eu me lembro de escutar às vezes.

Por outro lado (sempre existe outro) alguns filmes ainda mantém um certo fascínio. Não total, mas ainda um certo fascínio. No momento estou me decidindo se vejo ou não “Os Goonies” novamente. E estou procurando um filme , que deve ser um lixo, “Teen Wolf”, mas que me recordo com carinho. Lembro-me até de onde estava momentos antes de passar na Tv ainda nos anos 80.

No começo da minha adolescência comprei um guia de video , o meu primeiro , e ficava indignado com as notas que eram dadas para muitos filmes que eu gostava. Era ridículo o fato de darem somente 3 estrelas para um clássico como “Evil Dead”. Bem, recentemente assisti novamente o filme e tive que constatar que realmente é verdade. Poderia ser apenas mais um filminho qualquer se não fossem os talentos envolvidos na produção, os ângulos de câmeras incríveis e o humor ácido. Não é um filme para todos os gostos. O expectador comum que não se interessa pela parte tecnica irá achar ridículo (a não ser claro que seja um amante do trash).

É muito difícil conversar com alguém que não seja de sua faixa etária sobre filmes. Como dizer para um cara no auge de seus 20 anos que "Motoqueiro Fantasma" é uma droga (quem sabe não seja, adolescentes que o digam) e aquele antiquado James Bond é o máximo . Na verdade eu detestava James Bond quando tinha essa idade e preferia coisas como “Rambo” , mas isso é outra história. E tomara que nunca lancem “Spectromen” em DVD, para o bem de uma geração.

O fato é que os gostos mudam. Certamente quando tiver uns 50 anos, muito do que eu tolero hoje não sobreviverá e muitas coisas que hoje ignoro serão vistas com outros olhos. Poucas obras sobrevivem a uma revolução. A estas chamamos de “clássicos”.

Saudades da minha Lembrança

SAUDADES

Noções e Conceitos

A vida é uma vida só


SAUDADES


“O tempo salva ou mata”

(Tom Hanks, “O Naufrago”)


“Quando se vê o tempo passar voando diante dos olhos, todos os dias são iguais”

(Marcelo Mastronianni, “Três vidas e uma só morte)


“Eu não me importo de ficar velha, nunca pensei que fosse viver tanto. Eu me importo em parecer velha.”

(Shirley MacLaine, “Lembranças de Hollywood”)


“O pior da velhice é ficar lembrando da Juventude.”

(Richard Farnsworth, “História Real”, de David Lynch)