segunda-feira, 28 de maio de 2007

Scorcese , o velho Tarantino



Esse é velho, mas dado o atual nível do cinema não havia nada melhor para comentar. E de qualquer forma ele serve de referência para muito do cinema atual.

"Quem bate à minha porta" é o primeiro filme do Scorcese, começado ainda na faculdade em 1964. Era para ser um curta metragem(, mas depois de vários anos e de outras três mudanças de nome (Bring On The Dancing Girls, I Call First e J. R), foi finalmente lançado , desta vez como um longa, em 1967. Talvez por isso traga alguns problemas estruturais, mas é pelo talento do Scorcese que ele é lembrado até hoje.

Na época em que foi finalmente lançado era moda do cinema americano, influênciado agora pelos Europeus, que o filme trouxesse alguma cena de nudez e sexo, onde os produtores exigiram que Scorcese filmasse uma. Cedendo as pressões dos mesmos , Scorcese realizou uma cena para complementar o filme, e mesmo imposta, trouxe uma bela decupagem , que já mostrava o talento do jovem diretor.

O filme não tem exatamente um roteiro definido. E talvez resida ai a sua força. Scorcese aparece aqui livre de qualquer convenção, as cenas são mais importantes que o todo, e podemos notar nelas principios que permeariam a carreira do cineasta, como a forte influência da religião e a familia (a mulher que aparece no início, fazendo pão, é a mãe do diretor).


Na verdade o que me fez recordar do filme foi o fato de que lendo um comentário no Orkut, no qual uma pessoa questionava o talento do diretor (que finalmente ganhou o Oscar esse ano) e dizendo que o mesmo deveria ter aulas com o Tarantino, a imagem que me veio em mente foi o belo diálogo entre Harvey Keitel e Zina Bethune, acerca de filmes de faroeste (no qual o diretor tem grande apreço) e principalmente John Wayne. Tarantino bebeu muito disso. Quem diria que Scorcese , ainda nos anos 60, faria algo que seria resgatado décadas depois pelo jovem diretor , um cinéfilo de carteirinha e com grande talento para reciclar idéias alheias de uma forma original. Tarantino com certeza assistiu esse Scorcese em especial. A própria estrutura do filme lembra bem o novo cinema americano, mas era muito para a época. Se bem que Godard faria algo parecido também nos anos 60. Mas tudo bem, coisa de Cinéfilo novo.

No decorrer do filme, principalmente nas cenas finais , fica mais clara ainda a influência do Catolicismo no trabalho de Scorcese, nas cenas em que a personagem de Keitel, descobre do estupro sofrido pela sua jovem amada e seu mundo cai. Estão aí toda a idéia de punição e redenção que acompanharia o jovem diretor em toda a sua carreira. Aliás , em um belo epílogo na igreja.

Não é um filme fácil de se achar, e a primeira vista parece um Scorcese menor, mas está aí toda a força do seu cinema. E fica a constatação. Sem Scorcese não teriamos Tarantino. Ou melhor, teriamos, mas com menos talento, com certeza.

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